domingo, 26 de janeiro de 2014

É a lógica

   Às vezes não sei o que fazer da música! Às vezes toco sem saber o que estou a tocar, a pensar noutras coisas: no que vai acontecer a seguir no Game of Thrones, nas piadas que os meus amigos disseram quinta-feira, nas piadas que eu digo a que só eu acho piada... Toco, sim, mas não toco, não, não estou a tocar verdadeiramente, porque não estou lá, estou na Lua.
   Outras vezes toco e estou toda na música, completamente absorvida e sem conseguir pensar em mais nada porque nem sequer penso em pensar. Porque nem sequer sei que estou absorvida, só estou! Se me apercebo que estou, aí já é mais complicado: o meu cérebro distrai-se e começo a vaguear outra vez.
   O meu cérebro... É complicado. Às vezes tenho que andar à porrada com ele para ver se faço alguma coisa, ("Tenho que ir estudar." "Mas apetece-me tanto ver aquele filme que dá hoje na TVI" "Margarida, esse filme não tem qualquer conteúdo, vai mas é fazer alguma coisa que não te diga o fim logo no princípio. Como estudar!" "Mas... eu quero. Vou ver o filme." "Cérebro, vamos ter que andar à batatada?!").
   Se calhar é isso que define a capacidade de trabalho de um aluno: a aptidão de andar à batatada com o cérebro. Quanto mais porrada, mais capacidade; quanto mais capacidade, mais estudo; quanto mais estudo, mais sucesso, logo, quanto mais porrada, mais sucesso. Eu diria até que porrada é, no fim de contas, o pináculo da sociedade, o alicerce de toda a criação! Cá está uma coisa que não nos ensinam bem na escola. É lógica da pura! Os professores não percebem mesmo nada...

Acho que devia escrever um livro.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Chuva, lama, liberdade

   Apanharam-me à chuva. Viram-me lá, de cabeça para o céu, o guarda-chuva aberto ao meu lado, sem uso, a apanhar chuva livremente, como eu. Só assim, a sentir as gotas terríveis na pele, sem se lembrar que tinha um uso e um propósito e um caminho a seguir.
   Apanharam-me à chuva, de cabeça para o céu, o guarda-chuva sem uso e os pés descalços todos enterrados na lama! Ai, os caminhos, quais caminhos? Não tenho caminho, estou enterrada na lama e não consigo seguir nenhum caminho assim! A lama prende-me como areia movediça, mas não me engole e não me mata e faz-me sentir bem. Tão bem!!
   Apanharam-me à chuva. De pés enterrados na lama, de sonhos enterrados na alma, de chuva entranhada na pele. E repreenderam-me. "Ai rapariga que te constipas! Vais apanhar uma pneumonia!" Mas sabe tão bem! "Sai-me já desse temporal!". Temporal? Que temporal? Parece-me chuva tão miudinha! "E esses pés miúda, esses pés, deves estar enregelada! Anda, anda tomar um banho para casa." Mas porquê? Estou a tomar aqui, aqui mesmo nesta chuva e nesta lama, um banho de maravilhosa liberdade! E de suave areia movediça! O meu guarda-chuva também gosta e esqueceu-se do seu uso e do seu propósito e do caminho a seguir. Também eu me esqueci! De tudo, tudo! E não me quero lembrar... Nem de usos, nem de caminhos, só da chuva e da lama e da liberdade! O resto, não sei, não me lembro, não quero. Quem és tu? O que faço eu neste mundo? O que é que querem de mim?

Quem sou?
 
Saatchi Online Artist: Allison Rathan; Acrylic, 2013, Painting Petrichoria