terça-feira, 1 de julho de 2014

Igual, diferente, diferente, igual

   Não percebo isto das pessoas se andarem a dizer únicas! Ser "diferente" anda a tornar-se tão comum que já deixou de ser "diferente". Já ninguém se lembra do que é que isso quer mesmo dizer. Já ninguém se lembra que nem sequer quer dizer nada de tão especial quanto isso. Que ser diferente é... é... é o quê, mesmo? Não somos, afinal, todos diferentes uns dos outros? Não há ninguém neste mundo com os mesmos gostos, valores, opiniões ou perceções. Não há ninguém que saboreie a comida de forma igual, que beba água com a mesmíssima sofreguidão ou que veja as cores todas da mesma forma! Não é por acaso (ou não parece por acaso) que não há neste mundo todo duas impressões digitais rigorosamente iguais! Cada um de nós tem o seu próprio código de barras. Não há cá almas gémeas, ou peças de puzzle que se completem com toda a exatidão. E ainda bem!
   Somos iguais na nossa generalidade e diferentes na nossa individualidade. A igualdade era uma seca se chegasse aos pormenores da raça humana. Acabava-se a discussão e sem discussão este mundo não vive! Ponto final parágrafo.
   Depois, é claro, lá para o meio desta montanha de gente interminavelmente diferente, que se diz interminavelmente única, aparecem umas pessoas ainda mais diferentes e, essas sim, verdadeiramente únicas! Únicas no sentido mesmo (mesmo, mesmo) bonito da palavra! Únicas porque mesmo sendo iguais a tantas outras na sua generalidade, têm qualquer coisa de especial. Porque respiram pó de fada por todos os poros! Talvez um de vocês respire pó de fada para mim. Ou talvez não. Talvez eu respire pó de fada para um de vocês.Ou talvez não. Não é assim que funciona?
   É bonito ser-se único, é poético. É. Mas é também incrivelmente estúpido anunciá-lo ao mundo com a maior das confianças. Estou farta de ver gente feita de cera. Farta de ver os seus estados no facebook e os seus posters pendurados nas paredes do quarto: "Etelvina Eduarda, a respirar pó de fadas desde 1991." Não preciso de gente assim.
   Preciso de gente que faça o contrário. Gente que pendure na parede do quarto fotos dos amigos, dos irmãos, dos concertos a que foi, das férias que fez, das pessoas com quem aprendeu, das paisagens... Gente que acaricie o cão e que goste mesmo dele, que ajude quando for preciso muito e quando não for preciso quase nada. Preciso de gente que diga: "Aquela pessoa cheira a magia, a nuvens e a canela.", sem sequer perceber que são eles que mais cheiram a tudo o que há de bom neste mundo.  

sábado, 15 de março de 2014

Natas e afins

   Outro dia ia eu muito contente pela avenida fora quando passei pela Veneza e pensei cá para mim:
   "A Veneza tem natas muita boas! E a minha avó adora-as... Hum... ora bem, vou levar-lhe uma."
   E levei, assim, a armar-me em adulta riquinha e generosa (se bem que o dinheiro não era oficialmente meu, mas do meu querido banco particular chamado "pai"). Comprei uma para mim e outra para ela. E andei pela avenida toda com um sorriso na cara (a assustar meia dúzia de pessoas que acham que sorrir é sinal de psicopatia), a sentir-me bem pelo gostinho que lhe estava a fazer.
   De qualquer forma, levei-lhe a natinha ao cabeleireiro, voltei para casa com a chave e pousei a nata na cozinha (não, não a comi, quem é que pensam que eu sou?). Fiquei a sentir-me bem a tarde inteira! É a prova que o bem e o açúcar são de facto a cura para a humanidade.
   Devia fazer isto mais vezes...


 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

UNICEF Tap Project

   Passamos a vida a queixarmo-nos de tudo e de todos: do amigo que hoje nos ligou um bocadinho menos, do dia que não correu muito bem, da chuva que não para e do calor que sufoca, do mundo que não avança, das notas que não melhoram, dos professores que não explicam, dos colegas que não foram muito agradáveis, do medo que temos de ter dito alguma coisa errada... Não pensamos sequer que há gente que está muito pior e que na realidade nos dão tudo de bandeja! Temos comida, água, educação, amigos adoráveis, família fantástica, tempo, espaço, alegria, temos tudo! E passamos o tempo a queixarmo-nos e a queixarmo-nos, em vez de fazermos realmente alguma coisa por quem tem muito menos do que nós. Neste momento estou-me a queixar do meu próprio queixar e não estou a fazer nada por ninguém. Como muitas outras pessoas em quase todos os dias. E estou farta! Farta de resmungar com uma vida que é tão fantástica!
E os outros? Que estão em posições que nunca imaginamos, no verdadeiro fim do mundo? Ajudem-nos, por favor:

http://tap.unicefusa.org/

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Calçada

   "Bem vinda ao Paraíso!" - disseram eles. "Bem vinda à Terra dos sonhos, bem vinda à promessa, bem vinda ao mundo melhor!".
   E ao início ela acreditara. Olhava para aquela estrada de terra, para aquele pó luminoso de dia ameno no céu e pensava que era aquilo que precisava para se sentir mais viva. À volta tudo era verde e tudo resplandecia. Não se via uma única erva daninha, nem uma única erva seca, morta no meio de toda a vivacidade. A estrada de terra estava lisa, imaculada, sem nenhuma pegada irregular de nenhum humano maculado e descontrolado. E no entanto era tão rusticamente perfeita que ela duvidava que ninguém por lá tivesse passado.
   Pousou um pé na terra lisa. A estrada ficou marcada com a sua forma descalça: o dedo grande e o calcanhar enterrados bem fundo e o mindinho numa linha ténue, quase inexistente. Depois, pouco a pouco, a marca foi desaparecendo, engolida, como se de lama se tratasse. Mas não era lama. Era uma estrada de terra seca, tão seca que pó luminoso se levantava no ar e chegava ao céu ameno de Outono solarengo.
   Outono...
   À volta tudo era Outono e Primavera e Verão! A relva era demasiado verde e as flores eram demasiado vivas. As nuvens eram brancas e muitas e empurravam-se no céu, mas não chovia. O Sol era belo e quente e frio ao mesmo tempo e as árvores estavam carregadinhas de velhas folhas castanhas, que pareciam nunca cair.
   "Bem vinda ao Paraíso!" - disseram eles. "Bem vinda à Terra dos sonhos! Tudo aqui é perfeito!"
   É verdade. Perfeito. Demasiado perfeito. Não era aquele sítio que a iria fazer sentir viva. Todo ele era morto! As pegadas tremidas dos homens desapareciam; o Inverno não existia (nem a neve, nem as lareiras, nem o Natal frio na aldeia); as velhas folhas de Outono não nos rachavam debaixo dos pés. Tudo o que lhe poderia dar vida desaparecia, não existia, não se via...
   Preferia a sua casa. Preferia a lama seca e o cimento, o pó baço que lhe provocava alergias, o frio imprevisível, a chuva gelada, as flores menos ofuscantes, a relva mais seca e as ervas daninhas. Preferia o Inverno e as pegadas e as folhas a rachar no chão. Preferia a vida, a realidade, a beleza das coisas feias. A calçada portuguesa. Perfeita na sua imperfeição.

.Just go down the road...

domingo, 26 de janeiro de 2014

É a lógica

   Às vezes não sei o que fazer da música! Às vezes toco sem saber o que estou a tocar, a pensar noutras coisas: no que vai acontecer a seguir no Game of Thrones, nas piadas que os meus amigos disseram quinta-feira, nas piadas que eu digo a que só eu acho piada... Toco, sim, mas não toco, não, não estou a tocar verdadeiramente, porque não estou lá, estou na Lua.
   Outras vezes toco e estou toda na música, completamente absorvida e sem conseguir pensar em mais nada porque nem sequer penso em pensar. Porque nem sequer sei que estou absorvida, só estou! Se me apercebo que estou, aí já é mais complicado: o meu cérebro distrai-se e começo a vaguear outra vez.
   O meu cérebro... É complicado. Às vezes tenho que andar à porrada com ele para ver se faço alguma coisa, ("Tenho que ir estudar." "Mas apetece-me tanto ver aquele filme que dá hoje na TVI" "Margarida, esse filme não tem qualquer conteúdo, vai mas é fazer alguma coisa que não te diga o fim logo no princípio. Como estudar!" "Mas... eu quero. Vou ver o filme." "Cérebro, vamos ter que andar à batatada?!").
   Se calhar é isso que define a capacidade de trabalho de um aluno: a aptidão de andar à batatada com o cérebro. Quanto mais porrada, mais capacidade; quanto mais capacidade, mais estudo; quanto mais estudo, mais sucesso, logo, quanto mais porrada, mais sucesso. Eu diria até que porrada é, no fim de contas, o pináculo da sociedade, o alicerce de toda a criação! Cá está uma coisa que não nos ensinam bem na escola. É lógica da pura! Os professores não percebem mesmo nada...

Acho que devia escrever um livro.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Chuva, lama, liberdade

   Apanharam-me à chuva. Viram-me lá, de cabeça para o céu, o guarda-chuva aberto ao meu lado, sem uso, a apanhar chuva livremente, como eu. Só assim, a sentir as gotas terríveis na pele, sem se lembrar que tinha um uso e um propósito e um caminho a seguir.
   Apanharam-me à chuva, de cabeça para o céu, o guarda-chuva sem uso e os pés descalços todos enterrados na lama! Ai, os caminhos, quais caminhos? Não tenho caminho, estou enterrada na lama e não consigo seguir nenhum caminho assim! A lama prende-me como areia movediça, mas não me engole e não me mata e faz-me sentir bem. Tão bem!!
   Apanharam-me à chuva. De pés enterrados na lama, de sonhos enterrados na alma, de chuva entranhada na pele. E repreenderam-me. "Ai rapariga que te constipas! Vais apanhar uma pneumonia!" Mas sabe tão bem! "Sai-me já desse temporal!". Temporal? Que temporal? Parece-me chuva tão miudinha! "E esses pés miúda, esses pés, deves estar enregelada! Anda, anda tomar um banho para casa." Mas porquê? Estou a tomar aqui, aqui mesmo nesta chuva e nesta lama, um banho de maravilhosa liberdade! E de suave areia movediça! O meu guarda-chuva também gosta e esqueceu-se do seu uso e do seu propósito e do caminho a seguir. Também eu me esqueci! De tudo, tudo! E não me quero lembrar... Nem de usos, nem de caminhos, só da chuva e da lama e da liberdade! O resto, não sei, não me lembro, não quero. Quem és tu? O que faço eu neste mundo? O que é que querem de mim?

Quem sou?
 
Saatchi Online Artist: Allison Rathan; Acrylic, 2013, Painting Petrichoria

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Descobrir

   Não entendo o meu violoncelo e ele não me entende. Se me entendesse, faria tudo o que eu lhe dissesse. Soaria forte, soaria cheio, soaria a garra e a poder e a melancolia infinita. Soaria a tudo o que eu quisesse que ele soasse. Se eu o entendesse, saberia fazê-lo soar, transformá-lo em magia pura, por nele toda a minha alma e todo o meu peso e tirar-lhe de cima tudo o que lhe faz mal.
   Mas não o entendo, não completamente, e ele não me entende a mim. Ainda bem. Acho que não ia gostar de entender completamente aqueles de quem gosto. Perdiam-se as conversas, os momentos, as surpresas, o tentar entender, o entender finalmente, a satisfação de se poder ajudar e de se poder confiar. Perdia toda a graça! Todo o riso e todo o sorriso, todo o anseio e todo o esforço. E o esforço é uma coisa tão bonita! O inalcançável parece tão maravilhoso quando o estamos a tentar alcançar! Depois que se alcança, perde-se o vício e diminui-se a maravilha. E quando a glória acaba, não se sabe o que se há-de fazer a seguir. "E agora? Os meus olhos já se habituaram à escuridão, já pintei todos os feixes de luz neste quadro preto. E agora? Durmo? Desisto? Não, já não há nada para desistir. Já acabei o livro. Já não há esforço, ou suspense. E agora?" 
   Deve ser por isso que as pessoas morrem. Para manter o suspense. E o Paraíso deve ser um sítio de constante descoberta. Sem consequências desastrosas de atos inocentes (mas perigos, muitos perigos, para manter a adrenalina), silêncios constrangedores ou conversas demasiado longas. Com muitas cores desconhecidas, coisas escondidas e amnésias. Amnésias repentinas de descobertas de coisas maravilhosas! Para assim as podermos descobrir outra vez, e outra vez e outra vez! Eu haveria de contar ao meu pai os meus medos umas 24 vezes e haveria de descobrir os seus umas 50! Haveria de me rir das mesmas coisas 63 vezes por semana e ouvir as histórias da minha mãe sempre como se fosse a primeira vez. Os meus amigos nunca se cansariam das nossas tradições e dos nossos clichés (criariam outros melhores, talvez) e teríamos sempre tempo para estar uns com os outros; a minha tia dir-me-ia poemas novos muitas muitas vezes (mesmo que não fossem novos, mesmo que eu já os tivesse ouvido antes) e eu fá-la-ia sentir-se sempre bem. A minha família seria a mesma (nunca, nunca eu quereria outra) e teria sempre uma parte nova que eu pudesse descobrir e ajudar e viver com. 
   Paraíso. Maravilhoso. Com a quantidade certa de companhia e o seu quê de solidão Sem cores sempre iguais ou gente que se compreende demasiado. Comigo sentada a um cantinho do escritório com um violoncelo que não me entende. Também não o entendo. Ainda bem.     

sexta-feira, 12 de julho de 2013

As minhas filosofias baratas I

    É tão estranho sentir que sou eu, que sou alguma coisa! Sentir-me... existo e sei que existo e sei o que sou e o que faço e tenho consciência de tudo. E é estranho porque podia não ter. Porque podia não ser quem sou ou sequer o que sou. Porque é que eu sou eu e aquele pássaro é aquele pássaro? Porque é que não sou eu o pássaro e ele eu? E se eu fosse um objeto inanimado, uma cadeira, uma casa? Sentir-me-ia? Saberia eu que existia e que tinha coisas à minha volta e pessoas a andar, a falar e a passar sem se preocupar, sem saber que eu me sentia e as sentia e sabia? Provavelmente não. Provavelmente seria só uma casa... sem saber que o era, sem sequer saber que era alguma coisa, que era. Seria, sim, seria qualquer coisa. E existiria para sempre, mesmo que a casa se degradasse e os átomos se infiltrassem no ar, na água, num qualquer corpo de qualquer ser humano... E ainda assim nunca me sentiria. Existiria só, faria parte de um todo que depois deixaria de ser todo e passaria a ser um bocado de cada coisa, de qualquer coisa. Mas a casa seria sempre parte do meu eu separado e o meu eu seria para sempre uma casa, uma pequena casa. Nunca saberia disso, nem saberia o que tinha à minha volta, o que tinha em mim e para que servia uma casa e quem eram as pessoas que passavam por mim conscientes de si, que se sentiam, existiam e sabiam que existiam e não pensavam na pequena casa que era casa sem saber que o era. E passariam sem se preocupar.
   Não seria triste por não se preocuparem, nem feliz, nem nada. Seria uma casa, uma simples casa, nada mais.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Tragédia das empresas de telemóveis

   Ontem recebi uma mensagem muito interessante da Vodafone. Cito:
   "De acordo com o ECSI Portugal os Clientes Vodafone continuam a ser os mais satisfeitos do setor. Trabalhamos diariamente para manter a sua preferência."
   Portanto, a Vodafone mandou-me uma mensagem só mesmo para se gabar. Não gostei! Podia ser um bocadinho mais humilde e sensível, mas não! Decidiu humilhar publicamente todas as outras empresas de telemóveis: "Olha, olha, sou a Vodafone e os clientes gostam mais de mim do que de ti! Lalalalalala!!".
   Esta empresa é de facto muito pouco modesta. Nem sequer pensa nos sentimentos das outras empresas! E é que isto vai gerar problemas graves a nível nacional. Agora que a Vodafone resolveu deitar a concorrência abaixo, as demais empresas de telemóveis vão-se sentir tristes, devastadas, desanimadas... O que vai levar à criação de piores tarifários, pior atendimento e constantes avarias nos telemóveis e nos computadores das empresas. Os letreiros nas lojas vão cair, o pó vai-se espalhar no chão e nas prateleiras e os clientes vão ficar cada vez menos satisfeitos. O pior de tudo é que toda esta devastação vai fazer com que as empresas de telemóveis se tornem indivíduas muito menos interessantes, bastante deprimentes e incompreendidas; o que levará a uma muito pior sorte no amor. Ver-se-ão cada vez menos empresos e empresas a casar, o que levará à diminuição da natalidade. Ora, sem novos bebés-empresas a nascer, as empresas telefónicas entrarão em vias de extinção.
   Isto a mim parece-me um problema muito grave e por isso proponho que partilhem este post interessantíssimo, que fala de algo a que ninguém pareceu ligar nos últimos dias. Demissões no governo, a fome em África e as guerras não me parecem de todo assuntos assim tão prioritários e acho que deviam deixar de ser referidos na comunicação social. Deixemo-nos de brincadeiras e passemos aos problemas realmente importantes, minha gente! Ai, o povo está cego!    

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Shhhhhhhhhh...

    Está uma tarde de sol e um louco na rua.
    Não há nuvens... Não! O céu está azul, calmo e misterioso, como quem guarda um segredo.
    Mas não há segredo! Não há nuvens! Há só azul, sol e uma ténue brisa, fresca e leve, a dançar na relva. E um louco, na rua.
    Vem um pássaro a rodopiar. E o pássaro voa, canta, pousa nos telhados, debica as maçãs das macieiras e dança na relva com a brisa. E o louco ri. Ri do pássaro que debica inocentemente maçãs nas macieiras. Que voa, canta e dança na ignorância. Não é um riso maldoso ou sem sentido... Não! É um riso alegre de louco. Alegre por o pássaro desconhecer o segredo que o louco guarda e por conseguir ser feliz assim, a debicar maçãs nas macieiras.
    Mas não há segredo! Não há nuvens! Há só azul, sol, uma ténue brisa, fresca e leve, a dançar na relva e um pássaro. E o louco, na rua.
    Vem um velho com uma caixa e uma guitarra. Pega na guitarra e toca. E da sua voz rouca e carregada de mágoas flui uma melodia muito triste e muito antiga. E misteriosa, como quem guarda um segredo. E as pessoas passam apressadas na rua e, amarguradas, dão esmola ao velho e acenam a cabeça, como se soubessem o segredo. E o louco chora. Chora porque não sabem e porque o velho é velho e pobre e triste e já não pode dançar na relva com a brisa. E porque talvez o velho saiba o segredo e já não consiga ser feliz assim (como o pássaro), a debicar maçãs nas macieiras.
    Mas não há segredo! Não há nuvens! Há só azul, sol, uma ténue brisa, fresca e leve, a dançar na relva, um pássaro e um velho com uma caixa e uma guitarra. E o louco, na rua.
    O pássaro deixou de cantar e voou para longe e o velho foi-se embora com a caixa e a guitarra. E o dia desfez-se como um castelo de areia. Não há nuvens... Não! Nem azul, nem sol... Há apenas noite, negro, uma brisa ténue a esfriar a relva e um segredo. E, a guardá-lo como a um animal ferido, um louco, na rua.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Mundo ridículo

    É ridículo e invulgar este mundo. Esquisito.
    Há pássaros que voam sem saber como e pássaros que não sabem voar. Há flores de todas as cores e feitios, plantadas nas varandas, num grande jardim cheio delas ou sozinhas nos desertos. Sim, desertos, cheios de areia ou de gelo, quentes demais ou demasiado frios, sem ninguém, sem nada, que levam mentes ao desespero, outras à loucura e outras ao fascínio. Existe uma coisa chamada sol e outra chamada água que fazem deste mundo esquisito o que ele é. O sol é uma enorme bola de fogo pendurada no Universo, que chega até nós através de raios de luz e de calor. A água aparece na chuva, na neve, nas nuvens, nos rios que passam nas cidades e nos mares que passam no mundo. Mares de água salgada, com ondas e espuma e sereias e peixes que ondeiam, golfinhos que saltam, corais raros guardados bem no fundo. E há navios que lá se perdem e pescadores que de lá se alimentam e que lá morrem. E no meio do mar há terras, ilhas, onde vivem leões que rugem, lobos que uivam, gatos que miam, lebres que saltam, chitas que correm, águias, andorinhas, ratos... E homens.
    Homens que criam e destroem, mentem, fogem e gritam. Fazem a guerra e a paz com as suas mãos e as suas palavras. Repetem erros vezes sem conta, até que se apercebem que já erraram de mais. Ou não. Comem, dormem, e fazem do comer e do dormir algo mais que apenas um método de sobrevivência. Desperdiçam a água que nos faz viver e tudo aquilo que o sol cria e destroem o mundo. Contam histórias e aldrabam-nas, estragam amizades e arranjam novas, mudam... E sonham. Sonham em voar como os pássaros, ondear como os peixes e as sereias, saltar como os golfinhos e as lebres, correr como as chitas, rugir como os leões... Sonham! Nascem a sonhar e morrem a sonhar e com os seus sonhos, bons ou maus, constroem o mundo.
    Há coisas estranhas chamadas árvores, resistentes a quase todas as tempestades, com um corpo castanho e grosso e  penas leves a brotar das pontas chamadas folhas. São verdes, amarelas, vermelhas, castanhas, inexistentes, dependendo da estação. E as estações são quatro: O inverno, branco e frio, um casaco, um abrigo, um encontro de família, uma lareira, uma prenda, um riso pelo Natal, uma flor, sozinha, no meio da neve; o outono, chuvoso, castanho e vermelho e amarelo, frio, mas que lembra calor e abraços e aconchego, o barulho de uma folha no chão, o som de passos na rua, o vento; a primavera, florida, colorida, um raio de esperança, um sorriso, uma dança, uma festa e chuva de Abril; o verão, quente, laranja, azul, limão, um salto de alegria, um mergulho, um matar de saudades, liberdade e um pêssego sumarento numa rede ao fim da tarde.
É ridículo e invulgar este mundo. Esquisito. E por isso é fantástico, é nosso.


sábado, 2 de fevereiro de 2013

Irmãos

Irmãos são irmãos.
Chateiam-se, maçam-se, magoam-se, cansam-se, fartam-se, insultam-se...
São rudes, maus, berrelas, chatos, malucos, provocadores, persistentes, teimosos, brutos, impiedosos...
Não param!!!
Escondem os nossos telemóveis, cantam musiquinhas da Disney quando queremos (mesmo!) dormir, imitam sons "esquisitos" mesmo nos nossos ouvidos, ignoram os nossos sábios conselhos, fazem-nos cócegas contra a nossa vontade, dão-nos grandes beijos lambuzados e abraços demasiado apertados, roubam-nos as sapatilhas e estragam-nas numa semana, acordam-nos a meio da noite, estão sempre a comparar-se a nós, metem-se com os nossos amigos (ai ai meu Deus que vergonha!), estragam-nos as bonecas e as brincadeiras, rasgam-nos os livros e os cadernos, ameaçam-nos e chantageiam-nos, berram e, quando lhes pedimos para parar, têm o prazer de fazer ainda pior!!
Porquê?!
Porque sabemos que, por mais que façamos, aceitaremos sempre as desculpas um do outro, os "não volta a acontecer, prometo", os "gosto muito de ti, mana", os abraços e os beijinhos, os risos e os sorrisos.
Mais do que tudo, porque sabemos que, aconteça o que acontecer, para o bem e para o mal, havemos de ser sempre irmãos e que o tamanho do carinho que temos um pelo outro é muito, mas mesmo muito maior que o Universo inteiro!!!!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O fim do mundo!!


   Hoje é dia 21 de Dezembro. O dia do fim do mundo.
   Estejam atentos, olhem bem à vossa volta porque tudo é suspeito. Porque a qualquer momento a luz vai falhar, as janelas vão partir, terramotos vão surgir, as trovoadas vão incendiar as florestas e atacar as nossas casas, os prédios vão ruir, os mares vão-se enfurecer e nenhum de nós poderá sobreviver. Tudo será destruído, arruinado, os vestígios de eras passadas, o aglomerado de uma civilização de milhares de anos completamente devastado num dia apenas.
   Por isso aproveitem, vivam cada minuto da melhor forma que podem e não liguem para o resto. Corram, dancem, cantem, façam figuras tristes no meio da rua, nos centros comerciais, em casa dos vossos amigos, em todo o lado! Façam o pinheiro de Natal, o presépio, mas não olhem para eles durante muito tempo; comam uma lata de leite condensado às colheradas; ofendam o vosso chefe e digam-lhe tudo o que pensam dele; roubem uma loja; provoquem a polícia e depois fujam; façam caretas aos vossos professores; escrevam uma carta ao Pai Natal com uma lista enorme de prendas caras, mesmo que não as queiram realmente; gastem todas as vossas poupanças em refrigerantes e doces; não percam tempo a ver filmes; adotem um cão, um filho, qualquer coisa; dêem abraços, beijinhos, carinhos; nadem à meia-noite; vão a um bar de karaoke; andem pela cidade toda com alguns amigos até se perderem e depois tentem encontrar o caminho para casa; atirem uma tarte de framboesa à cara de um estranho; comprem um balde enorme de gelado, apesar de provavelmente não o conseguirem comer todo; partam uma guitarra numa loja de instrumentos; façam tudo aquilo que sempre tiveram medo de fazer, tudo o que vos apetecer, vivam!
   E depois rezem. Porque se eventualmente o mundo não acabar como vocês pensavam, no dia a seguir estarão metidos em muitos sarilhos...

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Uma das piscinas exteriores de cá da cidade já fechou...

   ...e eu não consigo perceber porquê. Afinal, estamos em inícios de Setembro, a escola ainda não começou e está tanto calor que às vezes até me sinto como uma uva passa, sequinha e molengona, escarrapachada a um cantinho do quintal/sofá, vitima do sol quente e dos pássaros que lhe debicam a pele (essa parte já não se aplica a mim). Por isso, pergunto, porquê?! Qual é o vosso problema?! Não querem ganhar dinheiro na única altura do ano em que realmente podem?! Bem, vocês é que perdem. As outras piscinas vão enriquecer à custa de trabalho duro e vocês aí, preguiçosos, nem fazem o esforço!
   Estou aqui com este discurso e ainda não fui uma única vez à dita piscina, mas apenas porque não tive oportunidade. Tive uma masterclass de violoncelo, conversas para pôr em dia depois de voltar de casa dos meus avós e idas fresquinhas a Esposende onde também há uma piscina e uma praia que de manhã é um paraíso. Por isso, tive mais que fazer do que ir a essa maldita piscina que não gosta de trabalhar nem ganhar dinheiro. Não me queixo!   


Dedicado à Carolina C., que me levou a Esposende nestes dias. 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Estava eu inspirada...quando surgiu este textinho.

   Ai que sonho bonito, com cheirinho a maresia e onde tudo é simples e azul, tão azul, tão fácil! O caminho é sempre o mesmo, sem esquerda, sem direita... Um caminho onde os meus pés não tropeçam em pedras, subidas sinuosas, ruas estreitas, dúvidas... Só com nuvens e pequenas ondas do mar a acariciá-los!
   Neste sonho há tantas paragens! Bancos de jardim onde eu me sento a ouvir os pássaros, a sentir o cheiro a maresia... Todo o tempo é meu, só meu, grande e abundante como grãos de areia!
   Ah! Que sonho, que magia! Quem me dera poder seguir em frente, sem pensar na esquerda, na direita, nas subidas sinuosas, nas dúvidas... Saiam da minha frente, pedras, vocês, no meu caminho! Nada quero senão as nuvens, os pássaros, os bancos de jardim e, ah! um pequeno sítio onde parar... Quero o tempo como grãos de areia (grãos de areia, não pedras!) e quero aquele cheirinho a maresia...
   Acordei. O sonho desvaneceu-se. Sei que sonhei, mas que sonho foi afinal? Ah! Sonho danado! Fugiste-me por entre os dedos! Mas, bem, não importa! Vou sair de casa, para a escola. Porque caminho? Hum... Vou por aquele cheio de subidas. É tão bom chegar lá acima com o vento a soprar na cara!
   Ofegante, mas vitoriosa!

sábado, 28 de abril de 2012

Da Janela II (à noite)

Bem, hoje, em vez de estar a escrever no escritório estou aqui, na sala, com o portátil da minha mãe, a ouvir mixórdia de temáticas. E resolvi, já que estou, assim, num sítio diferente, continuar a minha "sequela" e descrever a janela daqui da sala, agora à noitinha que é, obviamente, a altura do dia em que os pormenores da rua são mais visíveis.
Bem, passemos à descrição.  
Ora bem, daqui desta janela bonita (caixilho preto, vidro transparente, toalha de linho branco, tão agradável!) o que se vê é um infantário, com grades de ferro verticais na frente e paredes do lado, onde já tantas vezes caíram bolas de futebol. Depois, lá ao fundo, iluminadas por uma luzinha débil, estão umas casitas, já meias a cair, onde ainda vivem pessoas, por mais triste e inacreditável que isso pareça e um pinheiro à frente de uma das casas.
Do lado esquerdo, aquilo que se vê melhor são um monte de luzes amarelas (às vezes, também, vermelhas ou azuis) e, mais perto, uns prédios e umas vivendas, a que está mais perto com uma horta pequenina e um galo que nunca canta às horas certas (não me posso queixar, sou uma pessoa de sono pesado). Numa das vivendas antes dessa, está uma janela com uma luz azulada.
Do lado direito, vê-se um prédio e duas casas, uma com, suponho, doze janelas (não as consigo contar a todas por causa de um grande placard, do qual só consigo ver a parte de trás, que as tapa) e outra a degradar-se e com uma palmeira e um candeeiro de rua no jardim, à beira de um muro baixinho.
E, de novo, o suposto stand de automóveis, ou descampado, ou, simplesmente, monte de terra com um cerco verde à volta aparece, aqui, à minha frente. Mas esse não conta porque, com esta noitinha tão iluminada, nem sequer o consigo ver.
Bem, boa noite, obrigada pela atenção e talvez da próxima vez eu traga alguma coisa mais interessante.
Dedicado a todas as pessoas que, tal como, provavelmente, os que vivem nas casas degradadas ali ao fundo, se debatem com as dificuldades deste mundo em crise.

sábado, 14 de abril de 2012

Desafio

Hoje, decidi desafiar-me a mim própria. Resolvi fazer um post (este) que simplesmente não vou rever e onde não posso apagar aquilo que escrewvo. Erros ortográficos e tudo. Por isso, peço uimensa desculpa pelas gralhas ou pelo o monte de coidsas estúpidas que possa escrfver aqui e que, apesar de tudo, me apetece parar de escrever tanto como vocês de ler. Por exemplo, esta última frase não fez sentido nenhum e desejava agora mais do que tudo poder apagé-la, mas uma promessa é uma promessa, um desafio um desafio e, por isso, vou simplesmente deixá-la ali. Em conjunto com o escrewevo, o uimensa e o escrfver (ah, é verdade! e o apagé-la). Acabei de mosatrar (mostrar, perdão) ao meu pai a minha ideia genial (mais ou menos) e ele riu-se. É porque não deve ser assim tão má. Por favor, leitores, por uma vez na vida dêem-me uma popinião (sem p, desculpem) e faça,m comentários (porque eu fico toda animada quando isso acontece e sinto-me mal quando não aparece nenhum durante mais de dois meses) . Peço desculpa por este parêntesis, o qual também desejava apagar, pois aquele "sinto-me mal" não ficou muito bem encaixado lá (e desculpem por este lá, pois tamvém não ficou lá muito bem encaixado) e só queria dizer que vos admiro muito pela vossa paciência em ler isto tudo er a chegar até aqui. Parabéns! Acabaram de perder 5 minutos do seu tempo num texto sem sentido nenhum e sem qualquer objetivo aparente. Adoro-vos por isso . Obrigada pela atenção e desculpem pela seca, por aquele "seu" na terceira linha a contar do fim que devia ser não um seu, mas um vosso e pela ironia (não era bem isto que eu queria dizer, mas agora já está) a que foram sujeitos.

terça-feira, 27 de março de 2012

Simplesmente atum

Hoje provei pela primeira vez atum sem ser em lata. Vocês sabem, mesmo peixinho, fresquinho, diretamente do supermercado. A verdade é que não gostei tanto como do atum em lata, mas enfim, estava bom à mesma (não sou esquisita).
Lembro-me da última vez que provamos atum duma maneira diferente. Alguém (não me lembro quem) chegou a casa: "Trouxe atum aos cubos!". E era mesmo. Atum aos cubinhos pequeninos num saco de plástico de uma marca qualquer. E antes de o começarmos a comer o meu pai teve a brilhante ideia de fazer uma cerimónia a celebrar o facto de comermos pela primeira vez atum aos cubos. Então, em sintonia (mais ou menos), eu, a minha mãe, o meu pai, o meu irmão e a minha avó juntámos as mãos e dissemos:"Atuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuum...". E pronto, rimo-nos e começámos rapidamente a comer (porque, claro, cerimónias trabalhosas como esta desgastam as pessoas, exigindo uma rápida aquisição de nutrientes para trazer o corpo e a mente ao seu estado normal).
E, cá está, o meu primeiro post onde não vagueei por outros temas se não o principal. Impressionante como se podem criar longas conversas com um tema tão pequenino como atum. Não garanto é que sejam conversas interessantes.

sábado, 17 de março de 2012

Da janela I

Da janela daqui do escritório, onde está o computador, a internet e o blogue (uns dentro dos outros), a paisagem... 

...não é lá muito interessante.
Não era disto que estavam há espera, pois não? Bom, mas é a mais pura verdade. Há paisagens muito mais interessantes nas janelas do resto da casa, mas hoje, não sei porque carga de água, apeteceu-me falar desta. Mesmo à frente de nós há um prédio cor-de-rosa, com uma antena enorme no teto e umas enfadonhas garagens beijes com um autocolante a dizer VENDE para aí desde 1863. À beira do prédio há um terreno que já esteve cheio de erva e de lama, já esteve à beira de ser um stand de automóveis (segundo os boatos), mas que agora é só um monte de terra castanha com uma cerca verde à volta. Mais à frente há mais um prédio, com um café no fundo que, vá lá, visto de perto, tem uns docinhos com bom aspeto. Resumindo e concluindo, o aspeto mais interessante desta paisagem é um poste cinzento que se parece um bocado com a torre de Pisa (assim, meio inclinado), que, apesar de já estar a escurecer, ainda não se acendeu (estamos em crise e as juntas de freguesia andam a poupar) e ao qual está preso um caixote do lixo perfeitamente inútil, pois a parte da frente está descolada e a balançar com o vento. Mas isto é só desta janela, porque quando se olha de perto, estes sítios que descrevi até são agradáveis. 
Volto noutro dia, com a descrição da paisagem de uma janela mais interessante, talvez...    
P.S. O meu maninho acabou de perguntar se Marte é afluente da Terra, apesar de saber perfeitamente que não. 

Dedicado à Uz, cujas paisagens e pessoas são das melhores do mundo todo e arredores.

Abandonos e vidas extremamente ocupadas

Blogosfera, peço imensa desculpa por deixar este blogue abandonado durante tanto tempo, mas, ultimamente, tenho estado emaranhada em testes, trabalhos e atividades (novo acordo ortográfico e tudo, hã?), intercalando com o estudo de violoncelo, que, se o deixar por aí à solta, ainda me faz perder o progresso todo das últimas semanas. Passo a apresentar as provas que justificam a minha vida extremamente ocupada: 
1º Este ano, a minha escola decidiu optar por sete testes intermédios, em vez de apenas dois, para os alunos do 9º ano, com a matéria toda do 3º ciclo, o que, por si só, me dá o cabo dos trabalhos.
2º Para além desses testes, ainda tenho os testes das disciplinas sem testes intermédios este período.
3º Como me meto em tudo, tenho sempre mil e um projetos para organizar.
4º Tive cinco testes esta semana.
5º Este tempo que ora fica frio, ora fica quente, mas que nunca faz chover lá para os agricultores, faz-me tossir.
Sim, reconheço que esta última prova não tem nada a ver com a minha vida terrivelmente ocupada, mas serviu para acentuar o meu (temporário) infortúnio das últimas semanas e fazer com que vocês, desse lado do ecrã, tenham ainda mais pena de mim. Mas sabem, a trabalheira acabou e para a semana já estou de interrupção letiva (tradução: férias), por isso lembrei-me de tentar escrever alguma coisa de jeito para vos entreter. Resultou?

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

E-eu estou g-g-gaga

A minha mãe diz que, quando me entusiasmo, sou um exagero! Interrompo as pessoas quando quero falar e enrolo tanto, mas tanto a língua, que até me engasgo e torno gaga. E pronto, basicamente, nessas alturas, não me contento com menos do que ser o centro do sistema solar e ter todas as pessoas a ouvir-me atentamente (é claro que quando quero também me calo bem caladinha). Mas enfim, o centro do sistema solar não sou eu nem ninguém que se pareça, mas uma grande bola vermelha e quente chamada Sol.
A verdade é que acho que não gostaria de maneira nenhuma de ser o centro do sistema solar, nem da via láctea, nem mesmo do universo. Deve ser uma grande seca estar parada no mesmo sítio, durante milhões e milhões de anos, de braços abertos, generosos e sem descanso, a iluminar dezenas de planetas e satélites que nem sequer agradecem o esforço. Por isso tenho muita pena do Sol e dedico-lhe este post a agradecer a luz que nos manda por correio azul, já que ninguém se incomoda a pronunciar um simples "Obrigada!". 
E por isso, a partir de hoje, quando estiver entusiasmada, contento-me com ser apenas o centro das pessoas que estão à minha volta e talvez (só talvez!) haja a possibilidade de os deixar falar. Só um bocadinho...
P.S. Não se assustem leitores! Isto acontece poucas vezes por ano! O meu entusiasmo normal não é assim tão grande e destrutivo!
P.P.S. E o Sol que se amanhe, porque se o apanho por aí a distribuir queimaduras, vai ser à paulada!


Dedico este post ao meu maninho querido, que me está aqui a chatear! 

Coisas que ninguém vê na televisão e que são mais importantes que outras que toda a gente vê

Olá? Está aí alguém?
Helooooooooooooooooooooooooooooooo...
Estou aqui a apresentar um programa muito engraçado e... bem... preciso de audiência. Está alguém aí? Sim, sim, eu sei que isto não é nenhuma Casa dos segredos, mas que contribui para a cultura e a sabedoria das pessoas contribui. E são valores bem importantes hoje em dia. Com a crise... e tal...



Bem, que silêncio constrangedor! Dizem que isto de ter horário nobre é bom, mas cá para mim há demasiada concorrência a essa hora. Paparara... lalala...
Mas que público?! Bem posso fazer barulho à vontade que ninguém está a ver, por isso... O quê? Duas pessoas? Ok, ok! Então, como eu ia a dizer, em Portugal... Como assim, são apenas duas televisões ligadas sem ninguém a ver? Devem estar a gozar comigo.... Pfff...
Ao menos ainda me pagam o ordenado? Ainda bem, então. Já me posso ir embora? Ah, bom, tenho que me despedir das pessoas e encerrar o programa! Quais pessoas? Oh, que se dane! E assim acaba o nosso programa. Espero que tenham gostado, todos vocês que... estão... algures aí. Obrigado e boa noite...

Em casa da D.Mariana...
- Oh Justino, hoje o programa foi bem esquisito, não achaste?
- É. Esta juventude já nem sabe do que fala. Ai, antigamente...
- Vó, vó! Posso mudar p'ó Peso Pesado?
- Muda lá, muda lá...

Depois admiram-se que o Estado quer privatizar as empresas...

P.S. Prometo que vou também começar a ver mais este tipo de canais.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

TEDxyouthBraga

Sabem aqueles dias muito chatos em que temos TANTA coisa para fazer, mas não nos apetece fazer MESMO nada? Bem, este não é um desses dias (graças a Deus!), primeiro porque não tenho lá grande coisa para fazer, segundo porque até está um daqueles dias bonitos que nos eleva a autoestima e terceiro porque ontem, no youtube, vi uma palestra do Miguel Gonçalves que (essa sim) eleva muito (mas mesmo muito) a autoestima e o orgulho de quem é português. Se pensarmos bem, apesar de isto estar tudo muito mal, Portugal ainda é um daqueles países onde a vida humana é muito valorizada e um assalto a um supermercado ainda é notícia.
Esta (mini) palestra faz parte de um projecto feito em Braga (TEDxyouthBraga) cujo tema principal é INSPIRA-TE e tem como objetivo motivar e desafiar os jovens bracarenses a seguirem os seus sonhos. São então convidados, para este projecto, várias pessoas com sucesso na vida, como o Miguel Gonçalves, que falam com os vários jovens sobre temas diversos e atuais. 
O Miguel Gonçalves tem vindo (apesar de ser licenciado em psicologia), ao longo dos últimos dez anos, a desenvolver vários projetos em colaboração com várias empresas. Lançou há pouco tempo uma agência de criatividade, a Spark. Em 2009 fez uma viagem, durante um ano, por Cabo Verde, China, Malásia, Tailândia e Inglaterra e em 2010, em parceria com a Capital Europeia da Juventude 2012, fez uma Volta Europa em três meses a mais de 30 cidades europeias. 
Em Janeiro de 2011 a Spark lançou, em parceria com a Factory Business Center, o SoPitch, que pretende redesenhar o interface entre empresas e candidatos a integrar o mercado de trabalho.
Para além desta palestra aconselho-vos a ver também a de Carlos Coelho.
VIVA PORTUGAL!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Situações sem piada que nos fazem rir mais tarde ou mais cedo I

"Va lá, senhor diretor! Despache lá essa reunião que o meu filho tem concerto hoje!" pensava Maria, depois de quatro de horas de regras e artigos e discursos infindáveis. "Sim, sim, já percebemos que devemos honrar o nosso trabalho, ter respeito pelos nossos colegas, etc., etc. É o mesmo discurso todos os anos, por amor de Deus! Deixe-me lá sair, senhor diretor!" Maria gostava de poder pensar em voz alta, sair dali sem razões "suficientemente importantes" ou, melhor ainda, mandar o senhor diretor à fava sem ter nenhumas consequências. Mas os seus pais tinham-na ensinado desde pequena que não se falta ao respeito a ninguém, por mais infindáveis e repetitivos que sejam os seus discursos, e Maria já era crescidinha, sabia comportar-se e ter paciência. E por isso, durante mais quinze minutos, ficou sentada na sua cadeira, ouvindo o senhor diretor falar de civismo, responsabilidade e outros valores importantes que fazem de alguém um bom profissional.
- E assim acaba esta reunião... - disse o diretor.
Maria não esperou. Descolou-se à pressa da cadeira, agarrou na mala e no casaco e, balbuciando um pedido de desculpas rápido, desatou a correr até ao parque de estacionamento, pronta para entrar no carro e zarpar o mais depressa possível para o concerto de piano do filho, que certamente já tinha começado.
Maria nunca se sentira tão mal educada na sua vida. Gritou (mas não de forma muito espalhafatosa) com todos os carros que vinham à sua frente, acusou os camionistas de fumarem charutos e falarem ao telemóvel dentro da camioneta e insultou raivosamente os pobres semáforos vermelhos e sinais de STOP.
Mas lá chegou, depois de longos minutos, ao concerto do seu filho, ofegante mas sorridente, quando percebeu que ainda não tinha acabado. Deixou-se cair numa cadeira do auditório. Acenou ao rapaz.
Este levantou-se da cadeira, com um meio sorriso e fez uma vénia. Saiu. As pessoas bateram palmas, comentaram: "Maravilhoso, maravilhoso!", levantaram-se das cadeiras e foram-se embora. Dentro do auditório ficou só Maria, pasmada.
Riu-se.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Explosão de sensações

Sinto-me tão inspirada e sentimental neste momento! Se não fosse esta chuvinha torrencial e estes relâmpagos tão brilhantes que passeiam aqui num tormento, não me importava nada de andar por aí a pedir beijos e abraços a qualquer pessoa que me aparecesse à frente. Mas, sabem? há uma explicação por trás deste mistério. Uma explicação mais válida que qualquer outra. A verdade é que, neste momento, estou a ouvir uma maravilhosa música de Schumann e está a começar a afectar-me. Por isso, não se surpreendam comigo neste post, principalmente se ele acabar a meio de uma frase.
Oh não! Mudou o andamento! O que faço eu agora à minha vida! Já estava a habituar-me a este estado de transe, a este sentimentalismo piegas! E agora aparece-me à frente um Allegro, uma alminha cheia de frenesim! Bolas!
Pronto, já voltou ao normal... 
Aumenta... Aumenta... Tanta alegria! 
Já não te percebo Schumann...Feliz, sentimental, feliz, sentimental! Quente, frio, quente, frio. Decide-te, caramba!
Cresce e cresce e diminui e cresce e aquela maneira de respirar fundo e acabou! Em cheio, em grande, tão claro, mas tão difícil de descrever!!
É isto que adoro na música, esta explosão de sensações.  

sábado, 24 de setembro de 2011

Sai, preguiça!!!

Estou cheia de preguiça!!! Não me apetece fazer absolutamente nada! Quando posso, fico sentadinha no sofá, confortável, a absorver todas as moléculas preguiçosas que encontro no ar, por aí. Quando não posso, lamento-me, endireito as costas e penso "Agora não é tempo de engonhices, sestas depois do almoço ou de preguicites agudas. É para recuperar o ritmo e acabou-se. Não se fala mais nisso.". Mas, para ser sincera, não tem resultado muito bem. E, atualmente, no séc. XXI, a vida de muitos adolescentes é exatamente essa. Que se há-de fazer? Se o meu cérebro me diz: "Margarida, relax..." não o posso contrariar. 
Estou mesmo cheia dessa coisa chata chamada preguiça. De vez em quando, sabe bem dormir o dia inteiro, mas neste momento, por mais que me apeteça, acabaram-se esses luxos! A partir de hoje, eu, como tantos ex-preguiçosos, bano-te para sempre da minha cabeça. Talvez, se tiveres sorte, te deixe entrar em tempos de chuva.
    

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O código dos artistas

Esta coisa da inspiração é uma grande treta! Todos os artistas dizem ter algum local de inspiração: o mar, os grilos, a brisa fresca da Primavera a bater-nos na cara, Paris e os seus becos iluminados... São todos locais, climas, cheiros, sentidos, estados de espírito ou meditações puramente belas, silenciosas e relaxantes.
Todos os artistas, ao sentir a delicadeza disso a que chamam inspiração, se lembram de alguma coisa para inventar, se enchem de cores, de risos e de sentidos e a arte aparece como que por magia. Como se um toque das coisas que mais adoram os despertasse para a vida!
Todos eles têm uma inspiração...
Todos menos eu. Eu só tenho pontos de referência. Isso, pontos de referência que apenas me fazem sorrir: O cheiro a barba feita do meu pai; O riso da minha mãe; A simplicidade única do meu irmão; O som da chuva a bater na janela; A música; A aldeia dos meus avós...
Quanto à inspiração, a malandra surge-me em todo o tipo de sítios estranhos: na hora de ir para a cama, no meio do barulho e das discussões, ao som das picaretas e maçaricos das obras da casa ao lado, até, às vezes, na casa de banho!
Portanto, fico-me pelos pontos de referência. Não posso chamar inspiração a sítios como a casa de banho! Ofenderia o código dos artistas, que para mim é uma das mais descaradas mentiras do mundo. Tudo o que tenho, tudo o que eles têm são pontos de referência. Mas nenhum deles, nenhum de nós o quer admitir.

Dedicado a todos os artistas principalmente ao meu tio e à minha vizinha, pintores; à minha tia e à minha mãe, escritoras; ao meu pai e ao meu irmão, músicos.

sábado, 2 de julho de 2011

Beardyman

Vejam até ao fim.

A garrafinha

Começo a perceber agora como o Verão maça a cabeça das pessoas. Principalmente quando estamos em Braga, o calor é abafado e infernal e a perspectiva de cortar o cabelo à rapaz é um bocado assustadora. O que vale é que agora já se acabaram as actividades que me impediam de sair de casa e tenho todo o tempo do mundo para me refrescar.
Neste momento só queria mesmo ter aquela garrafinha dos ventos de Ulisses, soltá-los um a um e poder senti-los na cara nem que fosse só por um segundo. Depois, pronto, eles que fossem refrescar o resto de Portugal (também não sou invejosa) e talvez sobrevoar os mares do Sul e os países tropicais.
Quem sabe, talvez um dia eles tenham saudades da rapariga que os soltou e voltem para a garrafinha de vidro apertada onde um deus qualquer, ou rei, ou ninfa os prendeu. E quem sabe um dia eu os solte outra vez, quando o calor abafado voltar.
Portanto, muito bom dia leitores. Por agora, eu vou deitar-me no sofá, pôr no máximo a ventoinha e esperar para ver o que acontece.



terça-feira, 28 de junho de 2011

Parabéns pai!

O meu pai

O meu pai é… hum… é…

Oh! Acabou-se! Desisto, já não tenho paciência para inventar poemas. Já gastei toda a minha imaginação em dias do pai e da mãe e em festas de aniversário de familiares! Nasci há treze anos, oito meses e vinte e um dias, mas já desgastei todas as rimas que serviam para fazer poemas lamechas e textos sentimentais! Todas as palavras que usei estão rotas e cheias de bolor e todas as rimas que trouxe para os pedacinhos de papel branco que ofereci todos os anos já foram debicadas pelo tempo e comidas pelos pássaros. Todos os anos os desenvolvi (os poemas) um bocadinho, lhes acrescentei um bocadinho mais de sal. Mas agora já estão tão salgados que se confundem com as ondas do mar, ou com a sopa do Mc’Donalds e nenhum poema que se confunda com qualquer outra coisa a não ser a pessoa para quem ele é escrito é digno de ser oferecido. Acabou-se! Se há coisa que não vou fazer neste momento é voltar a repetir essas palavras e rimas, ou acrescentar-lhes um bocadinho mais de sal (visto que estamos em crise e o sal também é caro) e tenho a certeza que o meu pai não se vai importar.

Por isso, hoje, para não acabar com a tradição, fiz este texto, com uma mão cheia de ironia e outra de sinceridade. Serve-me apenas para afirmar o óbvio: o meu pai é o meu pai e nunca há-de-ser comido pelos pássaros.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Viajando...

Viajar é fantástico!! E no tal sítio de que vos falei, para além de estar com a família, passei um tempo maravilhoso a ver e descobrir coisas novas, a fazer novas experiências e a comer (uma das melhores partes é claro) coisas que nunca antes imaginara. Andei de teleférico, visitei aldeias, comi, num país perto desse de que vos falo, metade de uma pizza familiar, provei queijo, queijo e mais queijo, fui a um castelo, percorri património nacional de uma ponta a outra e ouvi falar três línguas diferentes. A única coisa que via na televisão era o mcm top, pois, sinceramente, não percebo patavina da língua que se fala nesse sítio. Mas foi nesse canal que apanhei esta música e até gostei. Senhores e senhoras, L'horloge Tourne (mais conhecida por Dam, dam, deo, como eu e as minhas primas dizemos).

P.S. Peço desculpa, mas como não consegui carregar o vídeo (ou fiquei cansada de esperar) vão ser obrigados a procurar na internet. Que se há-de fazer, o mundo é cruel, a vida é curta e a internet limitada. Aproveitem e vejam também Rolling in the deep, de Adele e Bambino, de Dalida (a minha prima canta esta música melhor/mais comicamente que ela).

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Um sítio qualquer, não desconhecido, cujo nome me lembro, mas não pretendo revelar

Amanhã vou para um sítio qualquer, não desconhecido, cujo nome me lembro, mas não pretendo revelar. Nesse sítio qualquer, não desconhecido, cujo nome me lembro, mas não pretendo revelar, vou visitar certas pessoas, cujo nome me lembro, mas não pretendo revelar. E tenho a certeza que lá farei imensas coisas cujos nomes me são desconhecidos e que não pretenderia revelar se por acaso os soubesse. Mas, infelizmente, não sou nenhuma mulher com poderes especiais, que lê o futuro, cujo nome me lembro, mas não pretendo revelar devido à preguiça que se desenvolve nos meus dedos neste momento. Por isso, opto por dar a esta conversa entediante, para a qual não arranjo mais nenhum nome, um fim e deixar o suspense no ar à espera que vocês, leitores desconhecidos, que sabem o meu nome, mas cujos nomes não sei, fiquem com uma inveja raivosa a brotar do peito e desejem, num ataque repentino de... qualquer coisa para a qual fiquei sem vocabulário, ir para esse sítio qualquer, não desconhecido, cujo nome me lembro, mas não pretendo revelar.
Quem sabe talvez já lá estejam.
Dedicado a uma certa pessoa, cujo nome me lembro, mas não pretendo revelar.

sábado, 9 de abril de 2011

Parabéns!

Parabéns Carolina!!! Espero que já não estejas doente e que aproveites o dia!!! Comigo também, é claro!

FÉRIAS!!!!!!!!!

Chegaram as férias, finalmente!!! Peço desculpa, não disse direito...
Chegou a interrupção lectiva, finalmente!!!! Disse direito agora?! Obrigada...
Sabem que estou sem ideias para escrever? A interrupção lectiva chegou e eu só penso em como a vou aproveitar. Interrupção lectiva... porque é que pessoas têm sempre de complicar tudo? Dizer férias seria muito mais fácil e muito menos ridículo do que dizer essas duas palavrinhas que apenas algumas pessoas usam para dar azo da sua sabedoria. Ou para nos tirar, a nós, crianças, adolescentes, universitários, alunos em geral, o gosto de dizer essa palavra em voz alta (que não custa muito, pois são só três sílabas) e fugir para nunca mais voltar... ou para voltar daí a duas semanas. O que importa é que ninguém gosta de dizer interrupção lectiva, quando pode muito bem dizer algo muito mais fácil. E afinal qual é a diferença? A escola e o trabalho são coisas boas. Aprende-se, estuda-se, convive-se, fala-se. Mas cansam e exigem descanso, por isso dizer férias é algo de que toda a gente gosta. E a verdade é que elas já começaram, ou começou a interrupção lectiva, e eu vou fugir para nunca mais voltar... ou voltar daqui a duas semanas.

Dedicado à D., que diz que nunca se deve fazer férias dos amigos. Eu concordo.

sábado, 26 de março de 2011

Novo título?

Bom dia seguidores, leitores, anónimos! Ora bem, eu, para dizer a verdade, não gosto muito do nome do meu blogue... Como diz o meu pai, "O meu livro em construção" soa um bocado a amador, a queijo da serra do Pingo Doce. E não era bem essa a imagem que eu queria passar. Porque este blogue é tudo menos queijo da serra do Pingo Doce ou outros quaisquer derivados do leite. Ainda pensei em chamá-lo "Crónicas do óbvio e da vida quotidiana", "Amarga500", "Violoncelista e Cª" ou "A arte de descascar batatas", mas precisava assim de uma opinião e de mais ideias, se faz favor. Por isso, seguidores, leitores, anónimos, se tiverem uma imaginação fértil e estiverem a ler isto agora, bem, fico à espera! Nunca se recusa o pedido de um bloguista!
Com os melhores cumprimentos,
Margarida Magalhães Vieira

sexta-feira, 25 de março de 2011

A Primavera e a greve dos camionistas

Este ano, a Primavera veio um dia mais cedo! Em vez de dia 21 veio dia 20. Quem sabe a boleia para Portugal se tenha adiantado, ou a Primavera tenha decidido vir mais cedo, por causa da greve dos camionistas, da demissão de Sócrates e da confusão que começaria a florir em Portugal no dia 21. Por isso, veio um dia mais cedo, para que toda a gente reparasse na sua chegada com a devida atenção e não estivessem preocupados com o curioso estado crítico do nosso país.
Infelizmente, hoje em dia, as prioridades do ser humano estão muito confusas. Mesmo no calmo e relaxante dia 20 de Março, que a Primavera escolheu para aparecer, existem coisas com que as pessoas se preocupam. Alarmam-se por causa do trabalho de casa que se esqueceram de fazer, assustam-se por causa do teste que vão ter no dia seguinte, inquietam-se por causa do relatório, do resumo ou da acta que vão ter de entregar na terça-feira e espantam-se pela cada vez mais catastrófica situação do Japão.
A Primavera está com muita falta de sorte! Ela, que estava habituada a ser recebida de braços abertos, apenas recebe, para animar, uma ou outra crónica optimista (que não é o caso) nuns bloguesitos rasca sem piada nenhuma (que também não é o caso).
Tenho pena da Primavera e dos desempregados, que se esforçam tanto para nada.

Dedicado à minha tia, que recebeu a Primavera de braços abertos e cujo blogue não é nada rasca.
Dedicado ao Samuel, que adora arco-íris de uma forma estranha.

sábado, 19 de março de 2011

Dia do pai

Hoje é um dia muito especial. Espero que nenhum de vocês, filhos, se tenha esquecido dele. Hoje é um dia diferente para o descascador de batatas cá de casa.

Dedicado ao meu pai, o dito cujo de quem falei em cima.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Transborda pessoas

"Se não te calas levas um murro que vais parar à China!"
Esta é uma frase muito conhecida. Muito conhecida... muito utilizada, mas que não faz sentido nenhum. Por amor de Deus!!! Ninguém tem assim tanta força!!! Parem de se vangloriar, meus amigos e comecem a ir ao ginásio, porque eu não vejo músculos nenhuns! Se querem mandar alguém para a China, é fácil. É preciso apenas adormecer a suposta vítima, levá-la cuidadosa e silenciosamente até ao aeroporto mais próximo e embarcar clandestinamente no primeiro voo da TAP. E já está. Quem diria?
Já agora, porquê a China? De mais pessoas é que a China não precisa de certeza! Poderiam sempre mandar a vítima para o Alaska, ou para a Sibéria, que quase não têm pessoas. Mas não, em vez disso preferem a China. Esse país que transborda de pessoas, que aplica políticas antinatalistas, que manda imigrantes para sítios como Portugal, que está cheio de bebés, crianças, adolescentes, e de mais um número infinito de gerações que nunca mais acabam. E as pessoas, em vez de ajudarem a pobre China que já mal consegue respirar de tanta população, mandam para lá mais uma pessoa, só para chatear.
Se não páras com isso, mando-te para a Gronelândia.

Dedicado ao Miguel, que não sabe fazer rimas.

Dedicatórias

Dedicatórias...
Vou começar a fazer dedicatórias nos textos que escrevo no blog. Mas nada muito comprido ou chato, como algumas que vêm nos livros. Dedicatórias curtas e objectivas e que só chateiem as pessoas a quem são dedicadas. E juro que se vos apanho a não ler as minhas dedicatórias, nunca vos hei-de de dedicar alguma coisa... E ponto final parágrafo.

Dedicado à minha vizinha de cima, pois esqueci-me de a avisar que hoje não ia almoçar com ela.

sábado, 12 de março de 2011

Descascador de batatas

Quando era ainda muito pequenina e inocente (como se isso fosse há muito tempo atrás!) perguntei ao meu pai o que queria ser se não fosse professor. O meu pai sorriu com um ar matreiro e respondeu: "Se não fosse professor, queria ser descascador de batatas num restaurante!"
E eu ri-me muito alto, porque mesmo pequenina e inocente sabia distinguir uma brincadeira de uma coisa séria. Mas agora, para dizer a verdade, penso que seria muito menos trabalhoso para o meu pai ser descascador de batatas no MacDonald's do que professor na escola ali da esquina. Quando se é descascador de batatas, existe um grande risco de cortarmos os nossos próprios dedos e de ficarmos com a mão cansada de fazermos sempre o mesmo movimento e até, com um bocado de azar, de ficarmos com um entorse na mão. No entanto, depois de muitos longos anos a descascar tubérculos de tamanho indefinido no MacDonald's, pode ser que evoluamos para descascadores de cebolas e passemos os dias a chorar até nos secarem as lágrimas. Depois, mais tarde, quando o dono do MacDonald's se reformar, talvez tenha pena do pobre coitado que passa o dia a chorar até secar as lágrimas e o promova a dono daquilo tudo. E, com sorte, talvez o desgraçado descascador de cebolas apareça no telejornal, ou num qualquer documentário sobre alguém que preferiu ser descascador a professor, e, ao contrário do que se esperava, se tornou num milionário respeitado por todos os fãs de hambúrgueres e outra qualquer comida de plástico.
Quando se é professor tem de se preparar aulas, fazer actas, ir a reuniões, ajustar o horário de modo a poder levar e ir buscar os filhos à escola, lidar com encarregados de educação que insistem no facto de o seu filho ser um santinho que não faz mal a uma mosca, transmitir más notícias, escrever recados, marcar faltas disciplinares e perder o intervalo por causa de um único miúdo cheio de dúvidas sobre a matéria, que para o professor não é assim tão difícil.
Ao menos dantes, segundo contam os meus pais, ser professor era divertido. Os alunos empenhavam-se, os horários não eram tão apertados, não havia tantas leis, decretos, artigos, ofícios, circulares,... e a matéria não parecia tão enfadonha. Mas, como dizem as pessoas mais velhas, esta juventude e este governo de agora já não são o que eram. Eu não sei nada do que digo, só digo o que ouço de outras pessoas, de pessoas mais velhas, mais experientes e com outra noção de liberdade.

Ao menos, quando descascamos batatas, ninguém se dá ao trabalho de nos chatear a cabeça.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Palavras à janela

Adoro teatro! Acho que é uma forma eficaz de exprimirmos a nossa raiva ou quaisquer outras coisas que estejamos a sentir, sem ninguém reparar que é real. Em vez de dizerem: "Eh lá! Estás enervada como a minha mãe quando me "esqueço" de arrumar o quarto!" ou: "Coitadinha, está tão triste! Vai afundar-se em lágrimas a pobre rapariga!", dizem: "Meu Deus! És tão talentosa! Enganaste-me bem! Nunca vi ninguém tão boa como tu! A sério... Oh, estás a ser demasiado modesta!".
Curvo-me perante o génio que inventou o teatro! É absolutamente engenhoso e não precisa de muito estudo. O sonho de todos os delinquentes juvenis... Mais ou menos...
De qualquer forma, eu faço parte de um grupo de teatro e aqui há uns tempos apresentamos vezes sem conta o nosso primeiro teatro: Palavras à janela!
Aqui está um poema que inventei com esse nome:

Espreito pelo vidro...
As palavras, fora da janela,
Falam umas com as outras
E cantam melodias que toda a gente conhece.
As conversas são as mesmas,
Gastas, repetidas,
Toda a gente as esquece.
Mas são bonitas as palavras,
Nunca cansam ninguém.
São sempre as mesmas,
E livres,
Dizem o que lhes convém.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Animalodependentes

A maior parte de nós, humanos, é "animalodependente". O que eu quero dizer com este caprichoso palavrão é que quase todos nós temos o cruel vício de nos alimentar de pequenos e indefesos animais, muitos deles enérgicos e jovens, "criancinhas" inocentes sem a noção do terrível perigo que para eles é o ser humano. Leonardo Da Vinci sim, esse era um homem louvável; admirador de pássaros e paisagens, digno de respeito, penso eu. Diz-se que quando ia ao mercado e via pássaros presos e amontoados nas suas gaiolas, os soltava, os libertava, pagando depois a quantia devida ao vendedor. É como eu disse, um homem louvável e digno de respeito!
Agora nós, actuais seres humanos, somos "animalodependentes" e o nosso vício nunca deixa de ser cruel. A verdade é que mesmo eu, que faço todas estas declarações e defendo os animais indefesos que nos servem de alimento, me esqueço disso à hora do jantar. "É o instinto de sobrevivência" dizem os cientistas, "a lei do mais forte". "O tanas!" digo eu, pois sei perfeitamente, como todos nós sabemos, que somos apenas seres gulosos que gostamos do sabor do que é mais alegre no mundo. Por mais que tente (a verdade é que também não quero), não consigo abdicar dessa crueldade... e viverei com ela até os meus dentes caírem todos e as minhas gengivas ficarem tão moles que nenhuma prótese me sirva. Foi o instinto de sobrevivência que criou a obesidade.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Cântico Negro

Este era um dos poemas que a minha tia me costumava (e costuma) dizer quando era mais pequena do que já sou. Gosto imenso do modo como soa aos meus ouvidos e é mesmo o que me apetece dizer quando vejo um panfleto de publicidade a convidar-nos a ir a um qualquer destino turístico longe daqui. O facto é que nunca o faço. E mesmo que o fizesse, seria mais para me vangloriar do meu conhecimento literário do que para criticar. Senhoras e senhores, de José Régio, "Cântico Negro"

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros

De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,

E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,

Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,

E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!

Ninguém me diga: "vem por aqui"!

A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,

É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou

Sei que não vou por aí!


Poemas

Mandei estes textos para a revista da minha escola e decidi postá-los aqui, para o caso de não serem aceites.


Sombras

Sombras… Sinistras… Cegas… Vazias…

Sombras de crias…

Sombras de sombras de crianças sentadas à sombra…

Sombras de um pomar.

Sombras que vão de volta para casa, lar doce lar.

Sombras que passeiam, vagueiam e batem à porta.

Sombras que escurecem, que andam,

que são silêncio numa alma morta…

E são as sombras que nos denunciam, que nos copiam,

nos seguem, nos espiam…

Mas mantêm-se perto… e longe…

E nunca nos abandonam…

É tarde, muito tarde, mas as sombras nunca se cansam…

Andam em bicos de pés, leves como as ondas do mar…

E regressam sorrateiras a casa, lar doce lar…


A mãe de todas mães

Caros colegas

Este é um texto normal, banal, sarcasticamente idiota. Este pequeno texto apenas fala de coisas do dia-a-dia, coisas “chatas”, que não vale a pena relembrar, porque as fazemos todos os dias, vezes sem conta. São histórias tão contadas e recontadas que já não são nada de novo. Nada de especial! Porque haveria alguém de se interessar por tamanho desinteresse!?

Mas enfim, esta é a minha história: todos os dias a minha mãe (Dona Teresa, se faz favor) me vem acordar às sete e um quarto da manhã (duas vezes seguidas devido à minha preguiça extenuante) e eu lá me levanto. Bocejo, dirijo-me calmamente até ao pequeno cubo sem janela a que chamamos casa de banho e tomo um banho de água quente com o meu champô Pantene Pro-V Classic (formato económico25% grátis). Lavo e passo por água, tal como diz nas instruções, e ensaboou-me com um gel de banho qualquer. Seco-me com a toalha previamente aquecida no aquecedor, visto-me e seco o cabelo com um brinquedinho engraçado chamado secador. Depois, vou tomar o pequeno-almoço: uma deliciosa taça de cereais e um pratinho com uma maçã cortada aos bocados. Vou a correr até à casa de banho e lavo os dentes com a minha escova transparente, usando pasta dentífrica, preferencialmente Colgate ou Sensodyne. Pego na mochila e no casaco e parto rumo à André Soares.

Agora já vocês sabem como é: aulas de noventa minutos e intervalos de quinze; uma conversazinha ou passeio com os amigos, enfim, banalmente falando. Depois do almoço, vou para casa, para a companhia da música, continuo na André Soares ou simplesmente passo a tarde inteira com os amigos.

Lancho, janto, amuo por ter de me deitar cedo, tento convencer os meus pais a deixarem-me acabar o capítulo daquele livro espectacular que estou a ler (sem resultados), ouço o meu irmão a trautear uma canção qualquer no escuro, vou desligar a luz da casa de banho, ouço o meu irmão a resmungar por ter desligado a luz da casa de banho, resmungo de volta, ouço a minha avó a mandar-nos dormir, rimo-nos, adormecemos. Fim.

A verdade é que hoje estou verdadeiramente desprovida de ideias e desaprendi tudo o que já tinha aprendido ao longo da minha pequenina vida. Hoje é o meu dia da preguiça e ninguém o vai interromper. Por isso, professores, funcionários, editores, directores, caros colegas! Daqui não vai sair nenhum texto de jeito! Apenas um texto banal, sobre pessoas normais, a fazer coisas do quotidiano. Tenho lá paciência para escrever textos, neste momento!... Sendo assim, se não se importam, vou repousar no meu momento de transe e aproveitar a preguiça. Acabou-se a conversa! Ponto final parágrafo.

E chega de discussões! Se não se importam, vou acabar a minha sesta depois do almoço.

Preguiçosamente

Margarida





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